Ontem, em uma viajem despretenciosa a Praia das Neves, município de Presidente kenedy, litoral sul do Espirito Santo, tomei conhecimento de um projeto de conservação de répteis coordenado pelo Prof. Alexandre (Alex) Araújo, da UFRRJ. Foi uma feliz coincidência, no dia em que visitava a praia o grupo de pesquisa do Alex estava desenvolvendo uma atividade extencionista de educação ambiental com crianças da região, com muita música, esposição de artes e cinema pra mulecada.
O projeto visa a conservação da espécie de lagarto Liolaemus lutzae (Mertens, 1938), que é endêmica da Mata Atlântica de Restinga do Rio de Janeiro e está ameaçada de extinção devido a ocupação de seu habitat por áreas urbanas. Restingas são formações vegetais que se desenvolvem no litoral brasileiro e apresentam espécies da mata atlântica, tendo em vista que a principal ocupação da terra no Brasil se dá no litoral trata-se de formação vegetal em constante risco de degradação.
A lagartixa-de-areia, como é conhecida, ocupa o infra litoral das praias onde busca por formigas e plantas, sua principal fonte de alimento. A ocorrência da espécie era limitada ao estado do Rio de Janeiro devido a barreira geográfica formada pelo estuário do Rio Paraíba do Sul, que o lagarto não consegue atravessar. Entretanto as características da comunidade da flora e fauna das restingas do Espírito Santo são muito semelhantes às observadas no estado do rio, o que levou o Prof. Alex a introduzir 50 indivíduos de Liolaemus lutzae na restinga de Praia das Neves a fim de preservar a espécie da extinção iminente no Sul do Rio de Janeiro. A introdução foi realizada na década de 80 e hoje a população já ultrapassou os 5000 indivíduos, sem que nenhum prejuízo a outras espécies tenha sido observado neste período de tempo.
Outras espécies se beneficiam com o crescimento da população de lagartixas-de-areia, principalmente as corujas buraqueiras, o carcará e diversas espécies de serpentes que predam o réptil.
O projeto já se encontra na fase final, quando os resultados obtidos são passados para a população local através da Educação Ambiental . A equipe de pesquisa forma também uma banda psicodélica, com composições próprias que falam da preservação do ambiente e da ecologia da espécie alvo do projeto.
Porém o grupo do Prof. Alex ainda têm muito com o que se preocupar. Os governantes e políticos do município e estado do Espirito Santo pretendem construir um porto para escoamento da produção de minério de Minas Gerais justamente na área onde o projeto é desenvolvido e onde se encontra a maior restinga do ES. Mais uma vez os remanescentes de área preservada se vêm ameaçadas em nome do progresso e desenvolvimento.
Desejo sucesso aos pesquisadores e estudantes envolvidos na conservação do L. lutzae, e espero que a população perceba a importância de se preservar a restinda de Praia das Neves.